quinta-feira, 25 de julho de 2013

ESTE E OUTROS MUNDOS...

Ando algo desligado das minhas observações do Espaço. Por vezes a Vida trata disso sem nos perguntar se é essa a nossa vontade, e acabamos por tacitamente aceitar os seus desígnios.
Nem telescópio ao relento, nem banhos de escuridão, nem o som do silêncio, quase nem o olhar para cima com olhos de ver, de procurar, de pesquisar... os olhos com que o Espaço merece ser olhado e observado.

Mas a noite de 3ª feira para 4ª feira foi noite de insónia. Semi-insónia, se calhar.
Fiquei a ver o "Million Dollar Baby" no Hollywood. Fez-me bem ver o filme, pois já me tinha esquecido de quão poderosa é a mensagem que transmite. Outra coisa não seria de esperar quando se junta um fantástico Clint Eastwood a um invariavelmente brilhante Morgan Freeman, bem secundados pela Hilary Swank. A mensagem que passa é que a Vida é efémera e que devemos lutar pelos nossos objetivos. Que devemos ser firmes e não deixar que nos ponham de rastos com opiniões que podem não ser válidas. No fim, que é legítimo tentarmos manter a dignidade de controlar minimamente o nosso destino.

Mas depois o filme acabou e fui para o meu quarto. Eram 5h30, mais ou menos.
Fui à janela. Senti logo o cheiro a queimado de um incêndio que lavrava não muito longe e deixava uma coluna de fumo cinzento no ar e tapava todo o Norte da Esfera Celeste. O dia dava sinais de querer nascer, mas ainda assim dava para apreciar algumas das maravilhas que têm andado arredadas dos meus olhos.

Esta é uma visão parecida à que tive nessa noite...

Era incontornável ver o Olho do Touro, Aldebaran, e a sua intensa cor vermelha a sobressair nas Híades. A partir daí, bastava desviar o olhar para a esquerda até Alnath e para cima até às Plêiades. Touro é uma Constelação esplêndida.

Mas o facto de Touro ser visível implica outra coisa fabulosa... é que isso significa que Orion está aí a bater à porta. Tentei perscrutar com o olhar o mais próximo possível do horizonte, acima dos telhados dos prédios que tenho lá mais à frente. Não sei precisar, mas talvez acima dos 10º de elevação, detetei o que me pareceu ser Betelgeuse. Estando ali Betelgeuse, Bellatrix teria de estar mais acima um pouco, mais para a direita do meu campo de visão. Lá estava ela. Confirmado, Orion estava a nascer. Só tive pena de não conseguir vir Alnilam, Alnitak e Mintaka, as famosas Três Marias, e Rigel, eterna companheira nos nossos Céus Noturnos, devido aos obstáculos físicos, muito terrestres, que me limitam a visão do Céu a partir desse local pouco privilegiado para a Observação Astronómica que é o meu quarto.

Capella e Auriga, o Cocheiro, estavam bem lá no alto, e procurei a minha Constelação astrológica, Carneiro. Não acredito em nada dessas tretas, mas acho que todos nós, astrónomos mais ou menos amadores, ou pura e simplesmente amantes da Física e do Céu, gostamos de encontrar e observar a Constelação à qual aqueles pseudocientistas astrólogos dizem que pertencemos.

Mas mesmo ali à minha frente, estava a conjunção Júpiter-Marte.
Primeiro apercebi-me de que ao lado de Júpiter estava uma "não Estrela". Distinguem-se pelo brilho fixo e não cintilante. Observei melhor. Marte distingue-se pelo seu tom avermelhado, que olhos não treinados confundem com uma qualquer Estrela. O Planeta Vermelho estava ali bem diante dos meus olhos, a fazer companhia ao gigante Júpiter.
É impossível não me emocionar quando penso em tudo o que isso significa. Como o mestre Carl Sagan diria, não eram "simples Planetas" que estavam ali, mas sim outros "dois Mundos". Olhamos para Terra e vemos "o" Mundo, mas é apenas "o nosso" Mundo. Há mais Mundos no Universo. 

NÃO, NÃO ACEITO QUE ESTEJAMOS SOZINHOS NA VASTIDÃO CÓSMICA! 

Ser Astrónomo (amador ou não), ou simples Observador do Espaço, não é ser mais do que ninguém. É apenas ter mais consciência do nosso lugar no Cosmos. 
Há tanto por descobrir, tantos Mundos diferentes para contemplar, que acho inacreditável que haja tanta gente a olhar sempre e só para o seu próprio umbigo. Na minha dissertação de Mestrado salientei a seguinte frase de Dante, numa das folhas iniciais:

"Os céus giram sobre ti mostrando-te as suas eternas glórias, mas os teus olhos limitam-se a fitar o chão."

Esta frase tem muitas interpretações. Prefiro aquela que diz:

- Homem, és tão tapado... se levantares a cabeça e procurares ver acima do teu nariz, verás a infinidade de maravilhas que estão à tua espera!

E isto aplica-se muito, mas mesmo muuuuito, à Observação Noturna do Céu.
Astronomia é Ciência no seu estado mais puro, mas também é reflexão, sonho e magia. 
A Astronomia não é uma Ciência para lunáticos, como o meu pai nos chama, mas sim uma Ciência para quem quer e gosta de ter os pés bem assentes na Terra. Pois só assim podemos elevar as nossas mentes na descoberta e compreensão de outros Mundos.

Se calhar ninguém leu este post até ao fim.
Gosto de pensar que algum corajoso ou alguma corajosa respirou fundo e seguiu esta exposição dos meus pensamentos. Se sim, que se sinta livre para se manifestar... Um "fumaste algo que não devias!" ou um "partilho do que sentes!" serão igualmente bem aceites, com um sorriso. Afinal, o que pretendo e sempre pretendi com este meu blogue de Astronomia é fazer a minha pequeníssima parte de divulgação da Ciência, bem como incentivar e estimular a conversa sobre a compreensão deste e de outros Mundos.
Acho que hoje falei de um Mundo do qual não falo muito. O Meu Mundo.

4 comentários:

Nádia Moreira disse...

Eu li até ao fim... :)
Mesmo continuando sem perceber muito do aasunto, é impossivel não me sentir contagiada pelas tuas palavras entusiastas e apaixonadas.
É bom quando partilhas o Teu Mundo.

:)

Carlos Capela disse...

Sim, é algo que devo fazer mais vezes... (serviu a carapuça)

;)

Anónimo disse...

E IMPOSSÍVEL QUE ACREDITAR QUE UMA RAÇA INFERIOR COMO A NOSSA SEJA A ÚNICA DO UNIVERSO !

Carlos Capela disse...

Não nos vejo necessariamente como inferiores, mas concordo que não acredito que sejamos os únicos.
O Universo é demasiado vasto e diverso para sermos os únicos.