sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

CIÊNCIA E/OU RELIGIÃO?

A vida dá voltas com as quais não contamos, e coisas de que tanto gostamos e pelas quais tanto carinho temos acabam por, muitas vezes, ser postas de parte sem que o queiramos. É o caso deste blogue, o meu cantinho online para uma das minhas paixões: a Astronomia.

Aos poucos, quero retomar a minha atividade por aqui, quero continuar a eleição das 7 Maravilhas da Astronomia, mas esse assunto vai ficar em stand by para já.

Hoje partilho convosco uma questão que, não me incomodando particularmente, me faz pensar um pouco.
Serão os físicos e cientistas tão céticos quanto à Religião, que não admitam a intervenção divina na Criação?
Serão as várias religiões tão fechadas, que rejeitem os modelos atuais explicativos sobre a formação do Universo?

Dizem que Ciência e Religião são incompatíveis. Não concordo.

Acredito que há algo mais sobre as nossas cabeças, algo que não conseguiremos (nem teremos...) necessariamente de explicar e compreender.
Acredito que Deus está em nós, nas nossas ações para com o próximo, no nosso coração.
Acredito que o nosso ser tem um destino quando o corpo se apaga fisicamente, quando biologicamente as nossas células morrem. Qual destino, não faço ideia.
Ouve-se muitas vezes, na Eucaristia, a expressão "o Mistério da Fé". Talvez seja precisamente esse o seu sentido, porque nada é claro, é apenas aquilo em que acreditamos e o que sentimos. E isso não é físico.


Por outro lado, acredito na Teoria do Big Bang.
Acredito no modelo atual para a formação do Universo, pois tudo faz sentido.
Acredito na teoria da evolução das espécies de Darwin, pois toda ela faz sentido.
Acredito que não somos os únicos no Universo e que ele não foi feito para nós. Somos uns meros habitantes de um Planeta pequeno, que orbita uma Estrela pequena, nos arrabaldes de uma Galáxia de dimensão mediana. Como nós, existirão muitos mais.


Sinto que tudo se completa, Ciência e Religião.

Conto um episódio que aconteceu na semana passada.
Fui dar a minha corrida junto ao mar. Com menos luz, sinto-me sempre obrigado a contemplar o Céu.
Estava um fim de tarde fantástico, frio mas com Céu limpo e os Pontos de Luz impunham-se com facilidade. Já o Sol se tinha posto. Orion já estava gloriosa a Este, e Sírio estava mesmo a despontar. No mesmo Céu, tinha o privilégio de ver facilmente Júpiter e Vénus, belos e imponentes como sempre. Acompanhei a descida de Vénus para baixo da linha do horizonte.
Pareceu-me ver uma tonalidade ligeiramente mais alaranjada no seu brilho e associei esse facto à mudança de cor que vemos no Sol nessa fase do seu ciclo diário. Dispersão de Rayleigh, aprendi eu há uns dias e motivo de um post futuro, talvez aplicado a Vénus. Talvez fosse isso, vou investigar... 
Mas o movimento (aparente) de Vénus (o movimento real é o da rotação da Terra) foi tão gracioso, tão suave, e acompanhado de cores tão belas, que o "pôr de Vénus" foi quase tão romântico como o pôr do Sol... 

Perante uma explicação tão física de um momento tão doce, só posso concluir uma coisa:
Deus existe.

6 comentários:

Tiago Rebelo disse...

Um bom texto sobre o universo e a existência de um Ser supremo em sintonia do que se passa.Acredito em Deus e aprecio bastante a ciência,mas há que separar águas,por vezes parece-me que a ciência evolui demasiado,levando a pensar que obra será aquela,que mais parece da do diabo,mas enfim,há que contemplar a vida pelo lado mau e o bom por isso é que ela se torna tão interessante.Deus me livre de estar a aceitar a maldade como uma coisa natural,penso que tanta barbaridade existente é de condenar,mas já quando Jesus veio até nós já se assistia muita maldade e se veio salvar-nos nós é que temos de optar que caminho seguir.Eu acho que a ciência é um bem para o ser humano,não aplicada por indivíduos de mente perversa pode dar os seus resultados e nesse pensamento acho que o que virá a seguir ou o grande desafio é conhecer mais o Universo para continuarmos pelo menos a acreditar que o ser humano não tem limites,mas lá que há imposições ou avisos de Deus há, não sei é como interpretá-los e alguém saberá?A vida assim como a morte é um mistério e continuará a ser durante muito tempo, a não ser que surja um fenómeno do outro mundo que nos faça esclarecer.

Carlos Capela disse...

Concordo absolutamente com o facto de a Ciência evoluir demais. Sou um amante dos livros de Carl Sagan e ele, por várias vezes, refere o facto de a Humanidade se estar a destruir a si própria com tanta evolução tecnológica e com a recusa na tomada de políticas de proteção do ambiente.

Também concordo que o "temos de optar" que usas no teu comentário. Se há coisa que Deus nos deu, foi o livre arbítrio. A liberdade de optar pelo que queremos foi-nos dada por Deus, a responsabilidade pela escolha é completamente nossa. Para isso temos (nem todos, se calhar...) consciência.

Deus e Ciência não são exclusivos, bem pelo contrário. Complementam-se, porque são componentes diferentes do Ser Humano.

Admin disse...

Excelente texto, Carlos.
Partilho das perspectivas que aqui expõe e também não vejo incompatibilidades entre Ciência e Religião. Já as houve, sim, mas hoje em dia a convivência entre ambas é natural e, não raras vezes, pouco polémica. Se alguns cientistas e algumas das mentes mais brilhantes do nosso tempo não acreditam numa divindade ( com todo o direito ), outras tantas há que o aceitam. Da mesma forma, crentes irredutíveis interessam-se, desenvolvem e contribuem para o conhecimento científico sem qualquer hesitação.
Apesar de não ser tão crente quanto isso, fico perplexo perante crentes que ainda insistem em combater o conhecimento científico, da mesma forma que me impressiona observar mentes científicas dedicando-se a confrontar perspectivas religiosas.
Este tipo de atitudes ainda é bastante vulgar pelo que, por cansaço, não me dou ao trabalho de expressar a minha opinião. O Carlos fê-lo, pelo que não posso deixar de congratulá-lo por isso.

Carlos Capela disse...

Muito obrigado!

A grande dificuldade dos fundamentalistas quer da Ciência quer da Religião é ver o mundo com outra perspetiva que não a sua.
Senão vejamos...

A Bíblia fala de Adão e Eva. Mas a Bíblia é um livro de símbolos, e deve ser entendido como tal. Não existiu UM Adão e UMA Eva, pois "Adão" simboliza todos os homens e "Eva" simboliza todas as mulheres. Isto foi-me dito por um padre, com quem tive esta conversa. Mas os cientistas fundamentalistas não veem a coisa assim, e insistem que, pela visão da Igreja, a espécie humana teria de ter origem num caso de incesto. E isto também me foi dito por um homem que dedica a sua vida à Ciência.
Erro motivado porquê? Pela recusa em ver as coisas com outros olhos...

Por outro lado, a Igreja tem uma dificuldade imensa em aceitar que a Ciência e o Conhecimento são benéficos ao Homem. Relembrem-se as atividades castradoras da Inquisição, por exemplo. Ou então, atentemos a um discurso quase geocêntrico ainda hoje vigente em muitos sacerdotes...

Pessoalmente, sou um homem muito racional. Gosto de perceber as coisas, sou muito de zeros e uns, sim ou não, o que é abstrato confunde-me. Contudo, sinto que Deus existe em todas as coisas, e para isso não há explicação racional que me satisfaça. Talvez seja esse o sinónimo de Fé.

someone disse...

Amigo Capela

A ciência e a religião e ciência são campos que se cruzam sem nunca se cruzarem.
Na religião acredita se numa verdade unica, sem espaço para a contestação.
Enquanto que na ciência a verdade está constantemente a ser posta em causa, o que hoje é a realidade e a verdade daqui a uns anos, não passou de um erro de interpretação.

Na minha opinião a religião quando não fundamentalisma e fanatica, torna se um bem maior.
Apesar de não ser um assiduo, praticante, reconheço a importancia que esta tem para a vida das pessoas.
Para mim a religião, é o nosso superego a funcionar, é a procura de um porto de abrigo, muitas vezes quando já não acreditamos em mais nada, ou entramos em negação, procuramos na religião a segurança para o nosso bem estar, procuramos o ouvido invisivel, e a aprovação divina, que não passa da nossa aprovação, e procura de significado aos nossos comportamentos e pensamentos do dia a dia. Quando a razão parece já não mais conseguir, dar um explicação clara, e perceptiva, entramos em defesa procurando a religião para voltarmos a um estado de homeostasia. A religião e uma teoria filosófica. São também uma doutrina, que não sofreu a mutuação necessaria aos tempos que correrm.

No entanto esta é apenas a minha opinião e mesmo , esta não e fundamentada e cientifica.

Carlos Capela disse...

Concordo plenamente.

Sempre defendi que há lugar para ambos na nossa vida. Os fundamentalismos e os fanatismos, mais visíveis na Religião que na Ciência, são um entrave à prevalência do "E" em detrimento do "OU".

Sou um homem que quer dedicar a sua vida de trabalho à Ciência e à Tecnologia, mas nem por um segundo abdico da minha vertente de Católico, crente, que usa a Igreja como o tal porto de abrigo que refere. Não sou daquelas pessoas que vão à igreja fazer figura de corpo presente, só porque "é preciso" ir. Eu vou quando interiormente sinto falta de algo, quando preciso respirar o ar de uma igreja e quando quero ter "uma conversa privada" com Deus.

A Religião não se adaptou ainda aos novos tempos que correm, mas a Ciência também não. A Religião perde por atraso de mentalidades, a Ciência perde por um suposto avanço não sustentado, com a consequente perda da consciência humana.

A Ciência define o que somos por fora. A Religião define o que somos por dentro...

Para participar positivamente numa conversa em que este tema seja o cerne, não é preciso fundamentar a nossa opinião de outra forma que não seja com o nosso sentimento.