quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

HISTÓRIA DA ASTRONOMIA - a descoberta da Radiação Cósmica de Fundo - 3

Mil desculpas por tão prolongada ausência!

Retomo hoje a História da descoberta da RCF no ponto em que a deixei.
Depois de tanto esforço na limpeza e minimização do ruído do telescópio, havia ainda um ruidozinho incessante, que emitia ondas de rádio em todas as direcções, e Penzias e Wilson não sabiam de onde vinha. Não sabiam que este viria a ser a prova mais convincente da existência do Big Bang, pois era o eco da expansão do universo primordial, um fóssil do maior e mais colossal acontecimento que é possível imaginar.

Explicação física:
Os cientistas Gamow, Alpher e Herman, em 1948, tinham previsto que o Universo sofresse uma transição 300 mil anos após o Big Bang, quando a sua temperatura caísse para 3000ºC, que é baixa o suficiente para os electrões se ligarem aos núcleos e formar átomos estáveis (fenómeno da recombinação). Neste ponto, deixa de ser possível a interacção entre o mar de luz e electrões/núcleos, visto que estes se combinaram e formaram átomos estáveis. Isto quer dizer que a luz passou a poder atravessar livremente o Universo.
A previsão dos 3 cientistas que referi em cima apontava para que o comprimento de onda dessa luz acompanhasse a distensão do próprio espaço, passando de um milésimo de milímetro para um milímetro, segundo a teoria de que o espaço se terá expandido de um factor de mil desde o Big Bang. Este comprimento de onda de 1mm situa-se na região de ondas rádio do espectro electromagnético.

O eco do Big Bang são estas ondas de rádio, razão por que são conhecidas de Radiação de Fundo de Microondas (RFM).

Só quando, cerca de 1964, e sem saber que em 1948 a mesma previsão tinha sido feita, os cosmólogos Robert Dicke e James Peebles publicaram um artigo em que faziam a previsão de um sinal de rádio com comprimento de onda a rondar 1mm, como um "resto" do Big Bang, Penzias e Wilson perceberam o que era o seu ruído incessante e enervante, e atingiram o verdadeiro alcance da sua descoberta, que viria a culminar na atribuição de um Prémio Nobel da Física em 1978.

Descobriram a RFM com sorte? Sim.
Mas precisaram de tenacidade e empenho, para saber o que era o ruído estranho que detectaram, pois há fortes indícios que outros se tenham apercebido desse ruído, mas ignoraram-no, julgando tratar-se de ruído do seu equipamento...

Os 3 cientistas que primeiro postularam a existência de RFM tentaram sempre chamar a si os créditos da descoberta, sem nunca o conseguir. Numa conferência realizada no Texas, quando foi perguntado a Gamow se aquela descoberta era a mesma que ele tinha feito, subiu ao pódio e disse:
"Bem, aqui há tempos perdi, algures por aqui, uma moeda, e agora foi encontrada uma moeda mais ou menos onde eu a perdi. Bem sei que todas as moedas são parecidas, mas sim, penso que é a minha."

7 comentários:

Rambanão disse...

Cá para mim o crédito foi bem dado aos vencedores do nobel, pois a radiação cósmica de fundo, é muito mais que um simples ruido, é muito mais que radiação cósmica de fundo, e hoje sabemos isso, mas apenas estes dois senhores perceberam essa importância, hoje em dia, dos projecto mais financiados pela união europeia é o planck, e isso demonstra toda a importância da radiação cósmica de fundo em cosmologia. Mas novos e surpreendentes resultados estão para chegar, penso eu. :D

Carlos Capela disse...

Concordo que o Nobel foi bem atribuído.
Uma coisa é postular uma teoria, outra é explicá-la, prová-la e contextualizá-la.

O que (me) fascina na Astronomia e na Cosmologia é a permanente descoberta de algo novo e, como diz, surpreendente. :)

Já agora, aqui fica a última actualização sobre o Planck, do dia 11 de Janeiro:

http://www.esa.int/esaMI/Planck/SEMK4D3SNIG_0.html

Rambanão disse...

Já tinha tido conhecimento dessa actualização, mas eu cá pessoalmente não gosto de CMB, estou a fazer investigação em cosmologia, mas numa área mais teórica, em Dark Energy. Deixo ao CMB para cosmologos observacionais. :D Mas qualquer dia aventuro-me por esses campos visto que está na 'moda' :P

Rambanão disse...

Ah, vou deixar então aqui uma noticia, que é mais ou menos em primeira mão, este verão, poderemos ter no Porto George Smoot, nobel da física 2006 e um dos maiores especialistas mundiais em CMB, numa conferência que é o Cosmos2011 que é a maior conferencia mundial de Cosmologia e Fisica de Particulas, terá organização do CAUP e do CFP. :D

Carlos Capela disse...

Peço desculpa pela demora em responder...

Isso é uma excelente notícia!
Essa conferência é aberta ao público?

Rambanão disse...

O endereço da conferência é o seguinte, http://www.astro.up.pt/investigacao/conferencias/cosmo11/ certamente paga-se, costuma ser cara, mas certamente que não vão recusar ninguém que apenas queira assistir, e também terá muitas sessões paralelas, será certamente a FCUP toda ocupada com isto!

Carlos Capela disse...

Se não me enganei, são 200 mocas... não é barato, não.
E é provável que pelo menos algumas actividades sejam abertas ao público.

Se puder, lá estarei. :)